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Eduarda Ferreira,

Delegada de Saúde Coordenadora da USP do ACES Porto Oriental

…O Senhor X, esquizofrenia descompensada ou outra razão

 

Chegou ao “serviço” da Delegada de Saúde um pedido: o irmão de X queria que este fosse internado no serviço de psiquiatria do Hospital.

 

Era um doente com uma esquizofrenia, estava reformado apesar dos seus 50 anos, por incapacidade decorrente da sua doença mental, estava muito agressivo com todos…a mãe, com quem ele vivia tinha morrido há tempos e agora ele não fazia a medicação injetável, não tratava da casa em condições, não queria falar com o irmão e mostrava uma atitude agressiva, com ameaças à sua integridade física, até para os vizinhos…. Rejeitava qualquer ida ao hospital ou ao médico. Referia que o viam com garrafas de cerveja…pedia intervenção urgente e já com mandatado advogado.

 

Residia na nossa área e estava inscrito numa das nossas unidades de saúde.

Havia que verificar o que se passava com este doente: não havia indicação hospitalar que estivesse em acompanhamento em hospital de dia; mas havia registos de consulta no médico de família, de prescrição de Haldol e de tomas regulares na unidade de saúde. Falei com o colega: o individuo deve estar descompensado…já por três vezes vem pedir a receita…que não está bem “passada”…ele é que não está bem…pegou-se com o segurança porque queria uma receita em “condições”, dizia ele. Mas até verifiquei se havia algum engano mas não…era o Decanoato e o nome e o número do SNS estavam certos… A enfermeira tentou falar com ele mas vai dar sempre ao mesmo: quero a receita…a que eu tenho não presta…é melhor mandá-lo para o hospital.

 

Falamos com a enfermeira que já o conhecia havia muito tempo para tentar encontrar que fatores estavam a condicionar este comportamento: não sabia…não a tratava mal mas quando ela lhe dizia para ir à farmácia ao lado porque o Dr. Já lhe tinha entregado a receita ele ficava furioso e queria uma nova receita...se calhar estava a abusar no beber…até andava mal arranjado…seria a falta que a mãe estaria a fazer no equilibrar da situação…

Visitamos o doente na sua casa: atendeu-nos e apresentei-me como médica acompanhada da senhora enfermeira Ana Maria. De modo grosseiro, perguntou o que queríamos? Falar consigo e ver o que está em falta para o tratamento.

Abeiramo-nos da entrada e realmente a casa estava desarrumada, com várias embalagens e restos de refeição ainda na mesa…mas já havíamos visto situação pior. Com agressividade na voz mas sem gestos, barafustou: mas vocês continuam sem me deixar fazer o tratamento? Porque é que não me dão o que preciso…a receita nova…A que o meu médico passou não presta…Eu preciso do tratamento para me sentir melhor… Estou a ficar doente e a culpa é do médico…Já devia ter feito o tratamento no mês passado e assim a farmácia não me dá o meu medicamento…Querem é pôr-me daqui para fora e dizer que sou maluco…Eu bem sei…fora…fora…

Com calma, perguntei-lhe qual era a farmácia e referi que iria lá para saber porque não vendiam o medicamento.

Vendem, vendem, mas tem que ser com uma receita do médico, mas bem passada….

 

Sem pressa (apesar de sentir que a Enfermeira Ana, ao meu lado, não estava confortável…nem eu me sentia segura...) disse-lhe que iria falar com o meu colega. E se trouxesse o medicamento, ele estaria disposto a fazer a injeção? Olhou para nós e respondeu: se ela é enfermeira ela pode dar-me porque as outras não acreditam em mim….

 

Bom, saímos dali e lá fomos à farmácia…será que ele tinha mesmo ido à farmácia ou estava com delírios? Na farmácia tudo se esclareceu.

Sim, o X já cá veio uma porção de vezes. Ele quer levar o Decanoato injetável mas para ficar com 100% de comparticipação o senhor Dr., tem que escrever na receita a Portaria…como a receita informatizada não sai com a indicação da Portaria é necessário colocar à mão…eu tenho-lhe dito mas ele não deve perceber…

 

Nós é que ficámos a perceber: a comunicação falhou e o pobre do doente queria tratar-se mas o preço não estava certo e não encaixava na sua lógica…

Fui falar com o colega para resolver a situação e …conseguiu-se…

 

A nossa palavra tinha sido dada e era importante reafirmar a confiança nos serviços de saúde. Voltamos à farmácia, levamos o haldol e a Enfermeira Ana Maria lá fez o injetável enquanto o X, na sua sala, não tirava os olhos de mim…você é que é a médica…mas não quero que venha cá mais…

 

E realmente não fui lá mais…a equipa da unidade de saúde ficou a saber das razões do “mau feitio” do X…e passou a monitorizar a situação…

Foi um olhar para além do que está na nossa frente…

 

Memórias presentes...

Editorial 

Vacine-se. Ao fazê-lo protege-se a si, à sua família em casa e aqueles de quem cuida.

A USP Porto Oriental participará, de acordo com as Orientações da DGS, na gestão e operacionalização da vacinação nos equipamentos e instituições da comunidade (residências ou acolhimento) que trabalham com grupos vulneráveis, utentes da RNCCI, doentes em Cuidados Domiciliários apoiados pelas ECCI, Unidades de Diálise e Estabelecimentos Prisionais.

A vacinação dos profissionais de saúde do ACES é assegurada em articulação com a equipa do Programa de Controlo das Infeções e Resistência Antimicrobiana (PCIRA).

A importância que a vacina contra a gripe representa para as pessoas em geral e para os mais vulneráveis em particular, não menosprezando as condições que a contra indicam, deve motivar a uma reflexão dos profissionais de saúde sobre o seu papel na prevenção da gripe.

Vacine-se. Ao fazê-lo protege-se a si, à sua família em casa e aqueles de quem cuida.

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Margarida Horta, Enfermeira de Saúde Pública, USP Porto Oriental

outubro 2016 (17ª edição)___________________________

 

"À conversa com...Eduarda Ferreira" - a propósito da saúde mental e da saúde pública...

 

É difícil saber por onde começar: os conceitos sobre Saúde ou o que compete à Saúde Pública…? O diagnóstico de saúde ou os determinantes da saúde…? A nossa visão diferente da visão clínica, quando olhamos para o ambiente e para os fatores determinantes da saúde que vão para além do individuo e revelam-se no individuo.

E foi a trabalhar no diagnóstico territorial ligado a grupos vulneráveis, com equipas de rua no âmbito das dependências, da prostituição e de quem vivia como sem abrigo, que começamos a trabalhar “pensando” na saúde mental... Ler mais.

 

A Intervenção em Saúde Mental e a experiência da USP Porto Oriental

 

Com base no tema proposto para a comemoração do Dia Mundial da Saúde Mental "Dignidade na Saúde Mental: Primeiros Apoios de Saúde Mental e Psicológica para Todos" a USP pretende demonstrar como a promoção, proteção e melhoria da Saúde Mental da nossa comunidade é um trabalho de persistência e continuidade, que depende da intervenção conjunta e concertada quer das intuições prestadoras de cuidados e serviços de saúde e saúde mental saúde quer da comunidade, como sendo o sector social, educação, justiça, autarquia, IPSS, ONG’s num trabalho que se quer de efetiva parceria, articulação e rentabilização de recursos. Ler mais.

MAIS SAÚDE MENTAL PARA TODOS: “Violência doméstica – proteção ou tratamento?”

 

No dia 17 de outubro de 2016 a U.S.P. participou no colóquio “Violência familiar – proteção ou tratamento?”, iniciativa promovida pela Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental – Centro Hospitalar São João no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental: MAIS SAÚDE MENTAL PARA TODOS. Ler mais.

 

Demência uma Prioridade de Saúde Pública

A Literacia em Saúde Mental quer da sociedade civil quer dos profissionais é um dos passos fundamentais para a desconstrução de mitos e preconceitos sobre a doença mental, e assim promover uma melhor compreensão e aceitação da dimensão do problema, permitindo a criação de estratégias/intervenções conjuntas e integradas (cuidados especializados vs cuidados de saúde primários) Ler mais...

Intervenção Comunitária em Saúde Mental

 

As políticas de Saúde Mental orientadas para o contexto comunitário pressupõem uma articulação privilegiada com os Cuidados de Saúde Primários. Sem a articulação dos cuidados especializados com os CSP, a resposta fica fragmentada e com perda da eficiência global. 

Neste sentido e, sendo a Demência uma prioridade em Saúde Pública, têm sido crescentes os esforços para uma intervenção conjunta e integrada entre a Equipa Comunitária do Idoso e a USP do ACES PO. Ler mais...

Unidade Psiquiatria Comunitária

Quem somos e o que fazemos

 

A psiquiatria comunitária enquanto modelo de intervenção na área da saúde mental e na doença não poderá atingir o objetivo a que se propõe, SAUDE MENTAL PARA TODOS, se não tiver como parceiro fundamental a medicina geral e familiar. Só um profundo trabalho de equipa servirá este sonho. E como todos sabemos, o sonho é uma constante na vida. «Enquanto o homem sonha, o mundo pula e avança». Ler mais...

 

Programa Nacional de Saúde Escolar

O Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE) continua, devido à sua importância, a ser o programa por excelência de Promoção da Saúde. É dirigido a toda a comunidade educativa desde o Jardim de Infância ao Ensino Secundário, do ensino oficial, e resulta de um trabalho de parceria com os profissionais da educação, das diferentes unidades de saúde do ACES e órgãos autárquicos. Pretende obter resultados a médio ou longo prazo numa população que será o futuro do país e na qual todo o investimento pode resultar em ganhos para todos. Ler mais...

 

Protocolo - Plano de Segurança da Água

 

No dia 10/10/2016, foi assinado nas instalações da empresa municipal Águas do Porto, um protocolo no âmbito do Plano de Segurança da Água que tem como principal objetivo instituir um canal de comunicação privilegiado entre várias entidades, de modo a proteger o abastecimento público de água na cidade do Porto. Ler mais...

 

 

Se o PNV é um sucesso então porque continuamos a dedicar tempo a falar dele?

 

Assinalou-se recentemente o 50º aniversário do PNV em Portugal, uma maneira de nos lembrar que a vacinação mantém-se uma prioridade no mundo, enquanto continuarem a existir casos de doenças evitáveis pela vacinação. A avaliação do Programa Nacional de Vacinação (PNV) tem demonstrado que a população residente em Portugal obteve nas últimas décadas taxas de cobertura de vacinação que nos protege de surtos, epidemias e do aumento da incidência ou mesmo reemergência de doenças evitáveis pela vacinação. Ler mais...

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